Arquivo do mês: março 2013

Um lugar para a cidadania ativa

Grupo Pedras Negras

Grupo Pedras Negras

Se você está interessado em compreender a nova problemática da legitimidade e sustentabilidade das Ongs no Brasil, recomendo a leitura do documento Grupo Pedras Negras – Um debate sobre o futuro das organizações de cidadania ativa, publicado em 2012 pelo Ibase (180p.).

Ele registra as análises, reflexões e propostas de um grupo pequeno (07), mas muito significativo do campo de Ongs brasileiras, todas filiadas à Abong (Associação Brasileira de Ongs) e ex-parceiras de Oxfam Novib.

O Grupo Pedras Negras (nome do hotel onde se reunia no Rio de Janeiro) teve 13 reuniões entre 2007 e 2011, debatendo temas que vão da crise global, o atual modelo de democracia e aos desafios da sustentabilidade das Ongs no Brasil.

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Com que roupa eu vou?

O governo afirma estar em busca dos últimos miseráveis do país. Enquanto isso, uma organização brasileira crítica ao modelo de “desenvolvimento” adotado pelo governo é convidada a participar de campanha internacional contra a pobreza no Brasil.

E agora? Como sair, ou entrar, nessa?

Belo dilema, não?13297524175hx93Y

O governo tem afirmado que retirou da pobreza 35 milhões de pessoas nos últimos dez anos. Agora espera zerar o número de pessoas em situação de miséria até o final deste ano. As estratégias de combate à pobreza no Brasil tornaram-se referência internacional. E, mais do que isso, o país construiu um arcabouço institucional na área social (conferências, conselhos, políticas, programas, sistemas gerenciais, etc.) bastante avançado.

A mídia tem dado destaque a estes números, divulgando que, sim, o Brasil está mudando para melhor quanto à questão social (leia-se consumo). Não obstante, parte da grande mídia tenta qualificar tais iniciativas como mera estratégia de poder.

A experiência cotidiana indica que somos mais e mais diversos em lugares como shopping centers, supermercados, ônibus, aviões, hotéis e, não nos esqueçamos, no trânsito das médias e grandes cidades. Isso tudo sem falar na demanda por telefonia móvel… Sim, não há dúvida de que um número bem maior de nós brasileiros consegue hoje consumir mais e melhor do que antes.

Os movimentos e organizações convencionais parecem não ter mais o mesmo apelo e convocatória. Novas formas de cidadania ativa emergem, especialmente aquelas sem institucionalidade formal.

Depois de séculos de corrupção, o partido que mais lutou por ética na política é justamente aquele a ser criminalizado no STF.

O país está, definitivamente, mudando.

E agora? Como se posicionar neste novo contexto enquanto ator social comprometido com mudanças efetivas na sociedade brasileira?

Alguns preferem ver somente “a metade cheia do copo” (o país melhora e distribui riqueza); outros optam por continuar vendo apenas “a metade vazia do copo” (o país segue sendo um dos campeões mundiais de desigualdade). Ambos os pontos de vista são corretos em sua particularidade, mas equivocados e parciais, porque não conseguem apreender o significado integrado das várias dimensões da situação.

Muitas organizações sociais reclamam por estarem experimentando dificuldades de mobilização e adesão popular a seus projetos e iniciativas. Um discurso comum é afirmar que as pessoas estão “cooptadas” pelos mecanismos de transferência de renda, que seriam apenas medidas compensatórias.

Será que isso explica alguma coisa do Brasil atual?

Melhor seria colocar-se a pergunta: como implementar novas estratégias de ação cidadã capazes de interpelar e mobilizar as pessoas num quadro de melhoria das condições de vida?

O caminho aberto por uma pergunta deste tipo contorna a simplificação da metáfora das duas metades do copo e abre novas perspectivas de posicionamento.

Transformações desta intensidade no panorama social sinalizam para a necessidade de os atores sociais se reposicionarem, ajustarem seu discurso e atualizarem suas estratégias.

Isto pode e deve ser feito sem necessidade de abrir mão do ideário da organização, isto é, daquilo que é mais fundamental em sua identidade, em sua razão de existir.

O problema é que a construção desta mediação entre ideário/identidade de um ator e o seu posicionamento contextualizado em situações concretas não é isenta de dilemas e riscos.

Daí a dificuldade de muitas organizações em se apresentarem com uma roupagem contemporânea. Sempre é mais fácil negar os avanços e mudanças da sociedade e se refugiar atrás das “velhas certezas”.  Mas este é um caminho que só leva estes atores à irrelevância.

Ser contemporâneo é muito difícil. Não é apenas uma operação de marketing, embora este possa ajudar.

Significa um ator social ser capaz de revisitar seus paradigmas e suas crenças mais profundas de forma aberta, franca e corajosa; significa problematizar as suas próprias hipóteses; significa buscar as mediações possíveis entre sua visão de mundo e de sociedade e as novidades do mundo atual; significa estar atento e aberto para identificar novidades instituintes; e significa, especialmente, ser capaz de formular as perguntas certas.

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