Arquivo do mês: julho 2013

Flores de outono, espinhos de inverno?

FSP, 18/06/2013

FSP, 18/06/2013

O mês de junho de 2013 no Brasil não será esquecido, nem terá sido em vão. Seja pelas flores, seja pelos espinhos…

Como flores surpreendentes brotando coloridas em pleno asfalto cinza do outono, ondas de protestos e manifestações se desenvolveram por todo o país.

Manifestos de indignação deflagrados por coisas só aparentemente pontuais e locais aqui e acolá – como o ataque aos bonecos infláveis do mascote da Copa do Mundo, o corte não anunciado de árvores pela prefeitura de Porto Alegre para abrir uma nova avenida, também para a Copa e, claro, as manifestações locais pela redução do preço das tarifas de ônibus.

No fundo de tudo, um tema comum: quem está decidindo o quê com o que é comum, o que é nosso, o que é público.

Jovens, muitos jovens, muito jovens. Gente, gente, gente…. muita gente, muito gente!

Sem Ongs, sem sindicatos, sem partidos; sem lideranças, sem uma reivindicação só, sem dó.

Foi um susto…

Afinal, a sociedade dispõe de toda uma institucionalidade – congresso, poder executivo, judiciário, leis, ministério público, conselhos e conferências de políticas públicas, movimentos socais, Ongs, igrejas, mídia, etc. – e tudo isso foi solenemente ignorado. Seu papel de escuta, organização e mediação social simplesmente não foi exercido. Pelo contrário, a insuficiência destes seus papéis foi eloquentemente denunciada nas ruas.

A institucionalidade democrática nestas semanas ficou com aparência de muralha de proteção. Contra o novo, contra o povo.

Esta espécie de primavera outonal brasileira traz muitas virtudes com potencial duradouro, especialmente, a emergência de uma prontidão cidadã mobilizada pelas redes sociais, a qual surge quase como um novo poder, que não deve desaparecer do horizonte do país. As manifestações podem e vão cessar, estas pessoas voltam para casa, mas não deixam o espaço público.

Mas muitas flores trazem espinhos…

Será o sistema institucional brasileiro capaz de ouvir, compreender, mediar e efetivar os anseios manifestos e latentes desta novíssima onda de mobilização cidadã?

Os sinais são no mínimo ambíguos até o momento. Se depender do Congresso, nada muda, porque se deve respeitar a legitimidade e a relevância dos partidos e do congresso. Se depender dos cientistas políticos e dos juristas de plantão, nada muda, porque não há precedentes históricos e não é assim, de forma açodada, que se fazem as coisas. Se depender apenas dos partidos políticos, nada muda, porque eles são essenciais à democracia. Se depender do governo federal, nada muda, porque o Brasil vai bem, obrigado. Se depender do PT, nada muda, porque esta é uma mobilização alimentada pela mídia conservadora. Se depender da grande mídia, então, tudo não passará de uma oportunidade para uma ótima minissérie de época.

Enfim, se depender da institucionalidade vigente, é bem provável que tudo mude para nada mudar de fato.

Trava-se, neste momento, vários embates dentro da institucionalidade: governo x oposição; executivo x judiciário; PT x PMDB; alto clero x baixo clero no congresso; setores A x setores B dentro do PT; grande mídia x mídia alternativa; mídia convencional x redes sociais e assim por diante… E isso é bom.

A onda de grandes multidões na rua começa a ser sucessida por uma pluralidade de manifestações menores, mais focadas, mais ligadas aos movimentos sociais. Mais reconhecíveis. Ufa…

Esta prontidão cidadã parece ter vindo para ficar, apoiada nas novas tecnologias e na intensa interação virtual nas redes sociais. Ela pode não se manifestar a todo o momento sobre tudo que é relevante, mas segue viva, latente, pronta a irromper de forma inesperada, pondo novos públicos na cena pública.

… com a indignação nos olhos.

A questão é: o que nós faremos com isso? Eu, você, os movimentos sociais, os sindicatos, os governos, as empresas e a mídia…

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